O NADA Q RESPIRO


Dá-me o prazer de um nada. Ao menos por hoje…Quero apenas o nada, vazio de um qualquer nadaHoje apenas quero sentar-me num café e ler a folha de jornal rabiscadaTinturada e triturada nas manchas que teimam em ser nódoa na minha camiseta de espasmos com rasgos de tempo, amarfanhada de sonhosMas não me deixes inexistir, ainda preciso sucumbirAusentar-me do cansaço de me ser, apenas por momentose nesse nada que prolifera, que se alastra e contamina o quererInfectou-me o abrupto vislumbrar do prosseguir vazioQue caminhos me esperam no atalho?que dirás num beijo seco e breve, de olhar vago sitiado na ausência?Tenho o peito perpétuo afastado do afecto. Desconhecemo-nos, embora nos soubéssemos.Balanço pensamentos com as tranças do mundo ao ventoQuantas ondas foram espuma para amadurecerem em mar?Quantas foram as conchas naufragadas para humedecer as tuas pegadasHá quem diga que é repentino o reflexo da retina na órbitaHá quem diga que os sonhos têm madrugadas, mas nós sabemos, eu e tu, nós que embalamos nos nossos braços a aurorasabemos que bebemos estrelas em cristal(é o que apenas conheço para perpetuar a minha ausência ébria)sabemos que as madrugadas sonham em complicadas equações de sentimentossomam paixão com carícias e subtraem-nas às promessasHoje arrisquei-me, ganhei coragemSai a rua apenas em corpo sem os adereços da alma e do pensamentoSinto-me pleno de irraciocício, inconsciente da consciência de me saber conscienteLiberta-me. Hoje quero irreconhecer o arrepio do frio na almaDeixa-me. Ao menos por hoje deixa-me. Estou empanturrado de mundo.O estendal está vazio…apenas repingam as molas de um sentimento longínquoDivago sem que me possa saber, adulteras-me sem que saibas querer-te (afinal, inexisto)Por favor, tira-me o sabor do entendimento. Dá-me apenas o orgasmo do instinto…

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