NUM DESSES DIAS NUM TOQUE....


Foi num desses dias em que a gente vagueia apressada, esquecida entre um ti-tac que não perdoa de mil relógios e os compromissos aniquilantes da vida, que aquilo aconteceu. Ela mais uma vez, como todas as outras vezes, de todos os outros dias, vagueva sem pressa ao sabor da sua própria solidão. Em cada passo uma palavra, em cada rua percorrida um novo poema, um novo pensamento, ou naqueles dias em que nada faz sentido, apenas palavras soltas ao vento da dor. Mas naquele dia, naquele tão simples dia...Um cruzar de olhares, um toque, algo que nasceu, rápido, entre tic-tacs que pareciam tão mais parados. O tempo perdeu significado, e a névoa da solidão pareceu dissipar, apenas um olhar, um singelo olhar... Nasceu e morreu ali algo, nasceu e morreu uma história...Nesse dia não houve palavras, nem poemas, mas melodia, a mais bela melodia. Depois disto, dessa sensação de quentura que lhe percorria o corpo, acordava...Abraçava-se a fim de agarrar com tuas as suas forças a lembrança daquele olhar limpo e esprançado que lhe fora cavrado em seus pensamentos por sua compaixão e ternura...Ainda parecia morar nela o perfume do desconhecido dos sonhos, sorria...Mas do nada tudo desaparecia e o seu leito parecia tão mais frio, tão mais só, tão mais triste, tão mais amaldiçoado. E vestia-se, preparava-se para mais um dia de solidão entre gente apressada, já sem a quentura no corpo, apenas com a palidez da solidão e o cinzento de uns olhos tristes, cada vez mais tristes.

Nenhum comentário: