MEU OLHAR


Sentada num telhado alheio a olhares indiscretos, invejo o poder que o olhar tem sobre quem me olha, e percebo que influência quem para mim olha... Percebo o lado negro que deles subsaí, percebo o medo que causo quando o meu olhar olha profundamente para alguém, trespasso o físico e penetro no mais intimo de seu pensamento, consigo desvendar seus segredos mais obscuros e negros... Meu olhar apenas significa uma alma cheia de nada e um corpo cheio de coisa alguma, meu olhar apenas significa que sou alma abandonada e esquecida, meu olhar penetra e deixa uma espécie de receio em quem com meu olhar entrei... Abandono seus sedentos de medo corpos e mentes deixando apenas uma única, inesquecível e voluptuosa frase: “...Sente minha eterna e penetrante solidão por momentos, solidão com que vivo de sempre para sempre...” Apercebo-me do mal que causo na mente de alguém quando esse olhar inquebrável e penetrante, apercebo-me que quem esse meu olhar recebe fica paralisado com tanta dor sentida por apenas alguns segundos, quando eu a sinto a toda a hora sem um segundo de descanso por ela apenas me adorar ver sofrer... Sentada neste telhado esquecido, entro no teu olhar que me tenta dizer que pare, mas eu não quero parar, quero que sofras por segundos, aquilo que eu sofro sempre, quero que sintas na pele aquilo que eu sinto no dobro, quero que desmaies de tanta dor que sentirás a pressionar-te o peito, quero que chores de tanto sofrimento que vês passar em frente dos teus olhos, e quero que desejes sair dali o mais rápido possível, quando só eu e apenas eu te poderei libertar de tanta dor causada apenas com o meu olhar... Sentada neste telhado, sujo, imundo, liberto-te deste sofrimento e dor, e todas as outras que sentis-te até agora não causado por mim... Reparo em teu olhar e vejo que está vazio, inundado de alivio mas distante, tão longe, sei o que pensas, sei que procuras uma resposta para este meu olhar que te perguntou o que sentis-te... Procuras uma saída para este olhar que gela o coração que se tenta aproximar... Procuras alguém que te saiba dizer que olhar é este que nunca viste igual, e não encontras, pois quem te podia responder a isso está no mesmo estado lastimável que tu! Sentada neste telhado, esboças um sorriso e partes, como que agradecendo o alivio agora sentido, e deixas-me com este meu olhar que todos temem e dele fogem... E é neste telhado que me refugio de mais ninguém, é neste telhado que me escondo, para não ferir mais ninguém, para não matar a alma que dentro deles resta... E é neste telhado que morro, num altar improvisado de morte, e é neste telhado que abandono um mundo de luz que fere os olhos que da escuridão nessecitam...

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